terça-feira, 21 de junho de 2011

casa

Ontem descobri o caminho para casa. Estava numa esquina a olhar para ti. Passaste depressa e olhaste para uma montra com macacadas pulguentas e pungentes. Decidi seguir-te pela rua abaixo, pela rua acima, pela rua ao lado… Sentiste-me, eu sei. Eu sei porque te senti a sentires-me. Mas não fizeste nada em relação a isso. Entraste no barco e eu fui atrás. No baloiçar do mar, das ondas, do sal, sorriste e desapareceste dentro de mim. Saltei para fora do barco e encontrei a Casa. Sorri completo e feliz pela primeira vez desde o início do mundo.

domingo, 19 de junho de 2011

19, dezanove, IXX

Quando perdemos uma capacidade, ou ficamos com ela diminuída, diz-se por aí, que os outros atributos aumentam – como diz o velho ditado: o que não mata engorda. No entanto a nossa incapacidade para a não estereoscopia coronária quase sempre nos emagrece a vontade.
Seremos capazes de sem vontade aumentar as outras capacidades?
Quem já passou por isso sabe que de algum lado inesperado e recôndito, surge um outro nós, de pala no olho direito do coração, capaz de inimagináveis projecções tridimensionais de vida.
Estas projecções inicialmente, para nós, servem para os outros verem que está tudo bem – construímos daqui a capacidade de estereoscopia a sós.
Restam-nos duas saídas assim:
ou nos mantemos com esta solidão capazes de avançar com apoio em projecções mais importantes que secundárias – a pluviosidade local, os ombros alheios, as epopeias construtivas da alienação;
ou por outro lado encontramos outra pessoa que seja a metade necessária para a estereoscopia completa.
Ambas tarefas hercúleas porque de qualquer das formas mudamo-nos por dentro e a esquerda, que nunca pensamos de outra forma, passa a direita, o fim a início, a montanha a planície.
Torna-se tudo tão agradavelmente mais difícil do que qualquer quimera solitária. Pomos os óculos e partilhamos a chuva em profundidade… nunca a mesma chuva, nunca os mesmos óculos, nunca os mesmos nós.