domingo, 15 de setembro de 2013

OHQLCURNC 37.

O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. O chão por sua vez sentiu-se deveras magoado. Isto tanto fisicamente, por causa do peso e da forma violenta como foi atingido, como emocionalmente porque nunca esperava que o homem lhe fizesse isso, nem levando com um raio na cabeça.
Foi uma surpresa muito desagradável para o chão que chorou um bocadinho todos os dias durante alguns meses até suprimir o trauma com outros passeios. Mesmo assim nunca mais foi o mesmo.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

OHQLCURNC 36.

O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Perdeu totalmente a vergonha. Despiu-se por completo e começou a passear nu pela cidade, a rebolar pela relva e a refrescar-se nas fontes. Deixou de querer controlar o que dizia, como se de uma criança se tratasse: “Ahah! Aquela senhora tem bigode!!”. “Aquele senhor coxo anda esquisito”. “Olá, estou profundamente apaixonado por ti, desde que te vi a primeira vez” – disse ele para a menina da caixa registadora enquanto coçava o escroto e sorria sinceramente. Vieram pouco depois apanhá-lo e levaram-no para uma instituição. Dizia sempre “Não sou eu que sou louco”. 

OHQLCURNC 35.

O homem ia a caminhar rapidamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Ficou cheio de vergonha e nunca mais saiu do buraco que se formou no chão. Passou a beber água que escorria pelas paredes e a comer uma dieta de insectos e ocasionais raízes atrevidas. Fez uma espécie de tampa para o buraco com a roupa para ninguém espreitar. A sua actividade mais comum era contar as gotas de suor que lhe caiam da testa devido à ansiedade.
Entretanto a câmara mandou alcatroar o buraco e o homem que levou com um raio na cabeça por lá ficou a comer bicharada e a beber água lamacenta.
Passados mil anos, arqueólogos do futuro escavaram o buraco e foram lá encontrá-lo. Foi nesse momento que o homem colapsou de vergonha por estar exposto à humanidade de novo.