terça-feira, 30 de julho de 2013

OHQLCURNC 30.

O homem entrou de férias, saiu da rotina e atrasou o tempo. Não alterou a hora do relógio, colocou o tempo a andar mais devagar, fora dos parâmetros de espaço definidos pela média. Ia a subir pela rua acima, em plena pastelice veraneante quando uns cem metros à sua frente caiu um raio no chão. Pensou na sorte que teve e em como se estivesse na aceleração diária talvez o raio lhe tivesse acertado mesmo em cheio na cabeça. Passou ao lado pelo buraco e seguiu em modo slow motion.

terça-feira, 23 de julho de 2013

26, vinte e seis, XXVI, aniversário, mudanças

Hoje acordei bem disposto, mas pela última vez nesta casa. Vou ali e já venho. Quando voltar, dentro de uma semana, já não será para aqui. A nossa memória visual embrenha-nos os locais no DNA e o seu abandono deixa sempre alguma melancolia. 
Havia uma casa em cima do rio (não é esta da qual me despeço hoje), com a qual sonho recorrentemente, cheia de infâncias e sabores e uma braga pequenina. Veio uma vaga mais forte e arrancou-a das suas fundações. Como um barco a casa do rio passou a ser a casa barco e foi desaguar na imensidão do mar. Levou consigo as infâncias os sabores e a braga pequenina. Ficamos nós todos para a relatar. Fica sempre algo de nós para relatar alguma coisa...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

OHQLCURNC 29.

O homem deitou-se na cama cansado, com dores de costas. Sonhou que a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Em seguida caiu como um peso morto no chão. Acordou atordoado, como se com o raio tivesse levado mesmo. Na verdade não se levantou por causa da dor que o debilitava. Rebolou para fora da cama e arrastou-se até aos comprimidos e à água. Quando conseguiu manter-se de pé saiu de casa e dirigiu-se aos seus afazeres. Pelo caminho levou com um raio na cabeça. Acordou uns dias depois numa cama, desta feita curado das dores que tinha. Já nem cansado estava.

domingo, 14 de julho de 2013

OHQLCURNC 28.

Iam os dois de mão dada, a subir a rua, em acesa discussão.
- É azul!
- É amarelo!
- É azul!
- É amarelo! Com mil raios!
- É azul! Rais’ te parta mais a tua teimosia.

E um raio caiu-lhe em cima da cabeça partindo-lhe a teimosia. A partir daí concordou que afinal era azul.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

OHQLCURNC 27.

O homem ia a andar calmamente na praia e de repente levou com um raio de sol na cabeça. Apenas um. Efectivamente acontece normalmente ser um homem atingido por mais ao mesmo tempo, mas não neste caso. Não caiu no chão, mas o calor do raio na cabeça fê-lo sentir-se quentinho e confortável completamente vazio de ideias frescas. A ignorância e a inércia são uma bênção, como a nossa cama aconchegada num dia de relampejar lá fora.