sábado, 19 de maio de 2012

o ponto mais alto


Ontem subi ao topo do ponto mais alto, aquele que ninguém sabe onde é.
De lá de cima via tudo; de tal forma tudo que demorei muito até perceber o que era que estava à minha frente, depois de acabar o cume e começar a escarpa.
O meu pequeno conjunto de neurónios apenas concebia ver um espaço amplo e alargado com um pôr-do-sol ao fundo, o verde das árvores, as linhas das estradas, o castanho da areia e o azul do mar. Uma imagem tão banalmente bonita que a conseguia desenhar com pedaços de outras que já antes tinha visto. Ia inspirando pelo caminho ingreme de forma a encaixar o puzzle na minha cabeça.
Não foi bem uma surpresa, daquelas que nos fazem libertar adrenalina e responder emocionalmente regressando depois ao normal, que me atingiu. Foi antes uma espécie de estalada irreversível no hipotálamo, um pontapé no sistema límbico. A verdade é que depois de ver o que vi nada seria igual para mim, para ninguém.
Como já disse demorei muito até conseguir percepcionar e decifrar o que se apresentava perante aquele elevado pico – perante os meus olhos não estava o espaço que antevi, estava antes todo o tempo, todo: o que passou desde sempre, um sempre tão amplo que me provocou dores de cabeça e sangramento pelo nariz; o agora, neste momento em que me encontro no cimo do topo, neste momento em que escrevo, neste momento em que releio, neste momento em que alguém lê o que escrevi; e o depois tão infinito como o antes, revelador de tudo em mim, em ti, em nós.
Ao olhar para a vista do tempo apercebi-me que passaram muitos anos desde que cheguei ao topo, que não foi ontem, embora o tenha sido, que lá tinha chegado, e que amanhã desceria, embora muito depois de amanhã. Vivi eras estagnado no mesmo local do topo a olhar em frente, a ver atrás, no meio e bem à frente.
Sem me mexer passei por todo o tempo e quando pensei perceber o tudo que se me apresentava desmaiei. Por sorte, ao cair bati com a cabeça num arbusto fofinho e não me lesionei. Por sorte caí de costas para a escarpa do topo do ponto mais alto, aquele que ninguém sabe onde é. Sem olhar para trás, sabendo já de antemão que era o que faria, desci.
Sentei-me aqui em baixo a olhar para um papel e a escrever isto. Fiz isto ontem, fiz isto hoje, no dia em que lês, e vou fazê-lo amanhã de novo, e depois, todos os dias, para sempre.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A minha tia, ontem à tarde, disse-me uma coisa que me deixou completamente estupefacto


Pois sim, meus caros, agora que já consegui a vossa coscuvilheira atenção, tenho-vos a indicar o caminho da salvação, a epifania luminosa da redenção…