segunda-feira, 27 de maio de 2013

OHQLCURNC 21.

O homem ia a caminhar muito devagar pela rua acima e levou com um raio na cabeça. Caiu redondo no chão. Mas assim redondinho como um pião a rodar sobre as costas. No meio das tonturas e chamuscaduras levantou-se devagar confuso com a sua identidade. Esticou o pescoço ao sol como uma tartaruga. Deu um salto ninja a piscar o olho à infância e foi-se embora para casa, dentro de si mesmo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

24, vinte e quatro ou gamaru, ou o dia mundial da tartaruga

Venho por este meio felicitar publicamente a minha tartaruga, Gamaru de seu nome, neste dia tão importante para a sua tartarugagem para si e para as suas comparsas encarapaçadas. 
Tenho inevitavelmente que destacar o facto de esta ter sido um pilar importante no caos da minha vida  desde que a encontramos no parque na rua atrás do bragaparque há sete ou oito anos. 
Uma contribuição incomensurável para a minha sanidade mental com a sua incansável capacidade de ouvir e os seus sábios conselhos ditos apenas na hora certa. 



(Eu sei que ela não é muito de ler blogues - coisa do século passado é o que diz - mas eu leio-lhe porque como sempre não estou sozinho, está cá ela à minha beira) 

domingo, 19 de maio de 2013

OHQLCURNC 20.


O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Não caiu. Ficou meio atordoado e sentiu um pequeno incómodo, daqueles incómodos que sentimos quando nos lembramos que poderíamos ter dito uma determinada frase numa inócua conversa da semana passada, conversa essa da qual nunca mais nos vamos lembrar passado o incómodo. Sacudiu-se para ver se o incómodo lhe passava e sacudiu a fuligem de ter levado com o raio. A fuligem saiu, o pequeno incómodo não. Não cresceu, nem diminuiu, não se tornou o centro da sua vida mas também nunca mais desapareceu. Morreu muito anos depois num acidente com uma estrutura que desabou por, numa tempestade, ter levado com um raio em cima.

domingo, 12 de maio de 2013

OHQLCURNC 19.


O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Incompreensivelmente conseguiu levantar-se antes de se transformar numa estátua de sal, roupas e tudo, mas sempre consciente. Vinham os gatos das redondezas lambê-lo, o que o deixavam com cócegas. Os gatos por sua vez faziam caretas felinas como quem não está profundamente agradado. As pombas foram-no bicando, iam caindo mortas passado um pouco o que levou a que passado um pouco já nenhuma o fizesse e se mantivessem afastadas. Houve flores que lhe nasceram aos pés. Flores muito feias e malcheirosas com picos em vez de pétalas. Umas cabras com pelo de palha de aço passavam lá a comê-las e em dez passagem pestiscaram-lhe os dedos dos pés também. Até que um dia vinha um búfalo a descer a montanha e tropeçou na rua por sobre a estátua - cornos enfiados no peito. O homem que virou estátua de sal quase chorou com a dor do coração perfurado mas só a chuva que caiu a seguir e lhe desfez os pedaços restantes conseguiu simular esse acto. 

domingo, 5 de maio de 2013

OHQLCURNC 18.


O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se. Toda a gente no mundo se levantou do sofá e bateu palmas. Que incrível façanha! Desde que o homem que ia a descer a rua apressadamente e foi mordido por um urso que não se via nada de tão espectacular.  Depois de dez minutos de palmas a humanidade voltou a sentar-se à espera que mais alguma coisa acontecesse.