O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se devagar, com um cheiro a farrusco
a entrar-lhe pelas narinas e uma sensação estranha de animação. Sentia-se vivo
e colorido. Olhou para o seu reflexo numa montra de uma loja de electrodomésticos
e verificou que efectivamente estava com o cabelo no ar e a cara toda encarvoada,
no entanto todo restante corpo brilhava de vivacidade. Sacudiu e cabeça e, ao
mesmo tempo que se ouviu um ruído de todos nós conhecido, ficou imediatamente penteado
e composto, depois de uma nuvem de pó preto assentar. O homem tinha-se transformado
num desenho animado – a cores! O espanto dele foi de um a naturalidade inerente
a este tipo de personagens, ainda assim o mesmo não se pode dizer dos
transeuntes que pelo local passavam.
Como qualquer desenho animado que se preze o homem começou a planar no
ar, ao mesmo tempo que os pés começaram a descrever uma roda com uma nuvenzinha
branca. Daí pisgou-se a toda a velocidade para casa para ver a família.
Como é óbvio nunca mais o deixaram em paz. Afinal era o primeiro desenho
animado vivo, como nos filmes, mas em vida real. Capaz do impossível! Apesar de
não conseguir ser omnipresente conseguiu, com a simplicidade dos desenhos
animados, resolver várias questões mundiais, sendo considerado um herói.
A esposa divorciou-se por causa as suas características peculiares, no
entanto pretendentes não lhe faltaram. Ele tendencialmente desprezava as que
pretendiam parecer a Jessica Rabit e procurava entre as mais sinceras. Os
filhos admiraram-no sempre, mas a partir de certa idade deixaram de o levar a
sério.
Com o tempo reparou na sua imortalidade, embora não perdesse nunca a sua
actualidade. Inicialmente temia as borrachas, correctores e outro tipo de
abrasivos e tintas, mas foi nestes que passados muitos milhares de anos de
animação, encontrou a sua redenção. No fundo nunca mais ninguém o viu, ainda
assim ninguém sabe precisar se efectivamente deixou de existir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário