segunda-feira, 20 de outubro de 2008

nove

Costumo andar pela rua a olhar para dentro de qualquer coisa: de mim, de uma ideia, de uma ideia de mim, de uma outra pessoa, de uma ideia de outras pessoas misturadas com frutas e medo, raramente de uma montra.
Mais de muitas vezes distraio-me e tropeço. Não caio, mas sinto a vertigem de voltar a cair na realidade. Fisicamente vou a olhar para o chão, para o ar, para os outros, mas não é disso que me lembro quando regresso.
Não sei como é que ainda não fui atropelado ou me parti todo numas escadas. Suponho que o meu mecanismo de regresso funciona o suficientemente bem para evitar isso.
No entanto são raras as vezes em que reparo que vou a falar sozinho… o que, embora não seja razão para acidentes, transmite uma imagem demasiado real do que sou para fora. E ninguém gosta de ser apanhado dentro de si por desconhecidos. (Vou atar um fio dos lábios às pernas e isso vai-me fazer tropeçar e assim prevenir-me vertiginosamente da realidade circundante.)

3 comentários:

Calisto disse...

Descobri aqui o meu novo blog favorito ;)

AdriMukti disse...

Olá Bruno,

Nunca mais publicaste nada no blog, é pena, gosto de seguir o que escreves...

Desejo-te 2009 razões pra sorrires no próximo ano :)

Bjinhos, Adriana

Anônimo disse...

Compreendo. Quantas vezes observo as pessoas na rua ou olho para coisa nenhuma enquanto flutuo. Adoro andar de comboio. A velocidade com que o meu pensamento atravessa as suas linhas é muito mais demorada que o meu destino previsível. Adoro pessoas. Adoro perceber e imaginar histórias. Para cada uma invento um cenário, um amante, um guião.
Também deveria ter um fio preso à imaginação. Perco-me em sonhos e chego a esquecer-me que me perdi.