A triste cidade sai à rua todos os dias
dentro de mim. Acorda bem cedo, pelas 6 da manhã para fazer as orações
primeiras, ajoelhada contra as minhas costelas. Depois de se queixar de quão
aborrecida é dirige-se lenta, em pé, comichosa num movimento repetido e
autómato como se de ocupada se tratasse, revolve-me as entranhas estagna na
estupidez da catatonia e sorri para o amarelo dos dentes do tempo e da partilha
estapafúrdia do vácuo, provoca-me cólicas dolorosas. Regressa, desloca-se às
orações do meio-dia, ora em pé ora em comunhão e vê de olhos fechados, causa-me
prurido na pele, algum mas profundo.
Retorna sem gás ao automatismo e ao
estupor desanimado, com ânsias de orar à bola, orar ao novelo de fios de merda,
de orar ao caralho que a foda, sem sucesso, provoca-me um refluxo gástrico
violento e violeta à boca. Enfim consegue libertar-se das amarras para se
dedicar ao marasmo, sempre e sem excepção, consegue orar a metade do que
planeou e satisfaz-se de barriga vazia por que sonhou ver luzes no meio do triste
cinzento, porque pareceu-lhe sentir formas no plano cimento, porque lhe deu a
impressão de ter ouvido música no ruído de esterco seco que lhe entrou nos
ouvidos, porque com nada ou um misto de nada com o inútil lhe pareceu que orou
o suficiente, a cidade, a mim fez-me vomitá-la.
De fora de mim engoliu-me porque eu sou
uma besta e deixei.
Saio agora todos os dias pela triste
cidade, triste a esmurrar-lhe as costelas, fazê-la estrebuchar, vomitar, ganhar
pruridos... e ou acorda um dia da tristeza, ou me vomita de vez - para eu nunca
mais a engolir.
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