O homem ia a caminhar rapidamente pela rua acima e levou
com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se
completamente atordoado e foi logo contar a toda a gente – espalhar
aos quatro ventos, meter a boca no trombone, espalhar aos três
trombonistas e soprar ventanias com a sua história. Fez correr
sangue nas veias dos escritores de notícias e dos jornalistas
também. Apareceu na televisão e fez alguns anúncios de rádio e
aparições no cinema. Só que não era verdade. O homem não levou
com raio nenhum na cabeça. Era mentira, um falso testemunho. Mas o
narcisismo do homem não o permitia acreditar noutra verdade que não
a sua própria mentira. Até ao dia em que se olhou ao espelho e a
verdade lhe piscou o olho : “Não levaste com raio nenhum, sabes
bem!”. Virou-lhe as costas e inventou que agora via o futuro nos
espelhos, fruto do raio que o atingira.
Acabou a vida enrolado na mentira que criara para si
próprio, mergulhado no seu próprio reflexo.
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