O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Ao cair fez um barulho de silêncio. Causou
mais espanto ainda quando se levantou, de pescoço erguido, como uma tartaruga
que se estica ao sol, e começou a cantar com a mais bela voz do universo.
Diga-se de passagem que até povos alienígenas acorreram ao local onde o homem
cantava. Não cantava em nenhuma língua específica, no entanto era uma língua
reconhecida por todos. Nunca mais saiu do sítio onde caiu quando levou com o
raio. Uma peregrinação ao local instalou-se para o ver cantar, e toda a gente
lhe levava coisas para, quando pausava um pouco, comer e beber. Filólogos
tentaram decifrar a língua, musicólogos procuraram reconhecer a melodia, os alienígenas
trouxeram a sua tecnologia avançada para ajudar a esclarecer estas dúvidas. Com
o passar do tempo nada se esclareceu. Passou a ser conhecido como o homem do
raio que cantava o silêncio. O silêncio que fez ao cair, o silêncio que todos
faziam para o ouvir.
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