domingo, 24 de agosto de 2008

cinco

Eu e eu sozinho com a dor da ausência em todos os sítios, praças, lugares, largos, pracetas, ruas, avenidas, parques de Braga. Eu farto do eu e comigo na mesma à espera de outro alguém em todos os sítios. Eu e eu e os sítios da cidade. Estou farto de Braga por minha causa, por estar farto de mim, por me imprimir a mim próprio a ausência, por Braga me imprimir essa ausência em mim que lhe imprimo a ela.
Sentado, em pé, encostado, deitado, encaixotado, encaixilhado, ajoelhado, plantado, enraizado, de cócoras, ao sol, à chuva (sempre à chuva), debaixo de uma varanda, de uma árvore, em cima de um banco, de um muro, de um arbusto, de uma bola de cotão, do chão, das nuvens, debaixo da lua, dos ratos voadores, dos lampiões, em cima da relva, dos lírios do jardim, do tecto, acordado, a dormir, ensonado, descansado, agitado, a sonhar, a fugir, a roer as unhas (eu nunca roo as unhas), a comer um gelado, a fumar, a comer um chupa-chupa, a mascar uma chiclete, a morder o tempo, a cuspir para o chão, a cuspir para o ar, a trincar a raiva, a esconder o medo, a queimar neurónios, a espirrar saudade, a tossir bocados de pulmão queimado, a escrever lixo numa folha, a desenhar folhas nas paredes, a esquematizar futuros irrealizáveis, a pensar em caminhos não traçados, a equacionar saídas fechadas, a remoer o café amargo do sabor a tédio, a voar no passado, a observar os outros (e a sua imensidão inalcançável), a perder-me de propósito (eu nunca me perco), a esperar, a esperar, a esperar, a esperar que chegue alguma coisa, a esperar que eu me vá embora, a esperar que Braga se vá embora.

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