O homem ia a caminhar acelerado pela rua acima e levou com um raio na
cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se devagar… em câmara lenta
como nos filmes. Do chão quente elevava-se algum vapor, ou melhor, fumo que
fazia lembrar vapor. Sentiu-se estranho, mas magnifica. O homem que levou com
um raio na cabeça reparou então que tinha algo no peito. Colocou as mãos e
constatou que tinha agora seios, dois voluptuosos e frescos seios. No meio do
espanto perdeu algum tempo a apalpá-los. Lembrou-se então de um pormenor, desceu
uma mão e depressa se convenceu do que tinha passado.
Era agora uma mulher (e
não, não se chamava Orlando). Decidiu continuar acelerada no sentido contrário
para onde ia, rua abaixo. Entrou em casa e depois de acalmar a primeira coisa
que se apercebeu foi que que podia ter filhos. Antes também podia, mas agora
podia criar vida dentro dela. É verdade que ia receber menos dinheiro no
trabalho (são factos, as mulheres em média recebem menos ordenado que os homens),
mas a mudança provocada pelo raio desenhou-se-lhe risonha. Em meia hora para
além da aparência física, o homem que levou com um raio na cabeça era uma
mulher feita também em toda a forma de pensar e sentir e ser.
E na verdade durante o resto da sua vida foi uma excelente mulher,
daquelas mesmo excelentes, como as nossas mães e avós e irmãs e namoradas e primas
e tias e amigas.
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