O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se atordoado com uma sensação de
afastamento da realidade. Na verdade, não reparou logo, mas desde que se
levantou nunca mais tocou no chão. Começou por flutuar dois ou três milímetros.
No dia seguinte reparou já estar dois centímetros afastado do chão. Com o
esforço de quem mergulha ainda conseguia sentir a Terra, mas nem por isso se
mantinha preso a ela como antes.
Os médicos começaram a elaborar teorias como sempre, mas não havia
nenhuma explicação aceitável. Passado um mês o homem que levou com um raio na
cabeça já andava a um metro e meio do chão. Várias soluções foram procuradas,
como atá-lo a uma cadeira, ou colocar bolas de chumbo atadas às pernas. Tal
como o mergulho no início funcionava, mas depois voltava à tona… e sem qualquer
dificuldade ou dor flutuava com os pesos agarrados a ele.
O que a princípio o confundia e preocupava, depressa lhe passou a parecer
normal e banal. Dormia colado ao tecto e depois por cima do telhado da sua
casa. Concluiu consigo mesmo que estava a rejeitar o planeta. Não lhe era uma
ideia nova, já antes de levar com o raio essas ideias lhe tinham cruzado o pensamento.
A partir dos dezoito metros de afastamento a atenção das outras pessoas
começou a esmorecer. Foi ficando abandonado pelo ar. Ia caminhando como se o
fizesse pelas nuvens. Aos sete meses tinha saído da atmosfera da Terra.
Sentiu-se grande comparado com o gigante azul à sua frente. Num ano já se
encontrava fora do sistema solar. Em dois anos fora da galáxia. Até que parou.
Parou num ponto neutro e afastado de forma igual de todos os outros
pontos do universo. A partir daí esboçou um sorriso que ninguém viu, mas que
nunca mais lhe saiu da cara. Começou a atrair poeira cósmica e outros pedaços
de matéria flutuante que passavam por perto. Até que á sua volta se formou um
enorme cometa. Quando já tinha o tamanho da lua o homem decidiu-se e arrancou a
toda a velocidade de volta à Terra…
Nenhum comentário:
Postar um comentário