domingo, 7 de abril de 2013

OHQLCURNC 14.


O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça. Caiu como um peso morto no chão. Veio logo uma ambulância buscá-lo. No meio da viagem foi acordando e ouviu umas frases suspeitas: Foi uma falha técnica; O sistema mediu mal as coordenadas; Não era suposto isto ter acontecido; Vamos ser todos despedidos se ele não aguenta.
Acordou ao fim da tarde na cama do hospital rodeado de familiares com um ar aliviado. Sentiu-se reconfortado mas uma frase de um primo deixou-o com a pulga atrás da orelha: Continua a festa.
Recuperou e continuou a sua vida normalmente. No entanto foi ruminando desde início o que tinha ouvido. Passou a acreditar que algo se passava. Que era especial e de alguma forma vigiado. Que a vida dele fazia depender dele todas as pessoas no mundo. Sentiu-se um messias, mas ao mesmo tempo, a sua tendência para a introversão não lhe permitia partilhar nenhuma destas ideias com ninguém.
Manteve neste limbo. Com a crença de que estava a ser constantemente vigiado passou a não fazer determinadas coisas que fazia antes: cantar no banho, falar sozinho, masturbar-se, escarafunchar o nariz, observar os poios que libertava ao mundo, olhar para os decotes e pernas que deambulavam pela sua frente, e mais todas essas coisas que tu fazes mas não queres que ninguém saiba.
Poucos meses depois entrou num convento (embora não tenha encontrado a fé no deus dos seus parceiros de mosteiro, a sua fé na vigia que tudo sabe levou-o a esta opção) e viveu uma vida de monge silencioso até ao fim dos seus dias. 

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