O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se confuso sem saber onde estava. Na
verdade nunca mais soube onde foi parar. A princípio custou-lhe percorrer os
labirintos locais e relacionais, a forma como se organizavam as ruas e como se
comportava a sociedade onde estava. Sentia-se um alien perdido. Com o tempo foi derrubando uns muros e abrindo
caminho. Tinha a esperança de regressar, nem que fosse com um raio na cabeça de
novo, mas no sitio onde foi parar só fazia sol, todos os dias. Acabou os seus
dias relativamente deslocado a olhar para trás, mas resignado com o seu
caminho.
domingo, 30 de junho de 2013
quarta-feira, 26 de junho de 2013
25, vinte e cinco (de abril sempre?) - Simon Says Run
Tive uma ideia genial para dinamizar a
cidade de Braga.
Tem que ver com corridas e objectivos vagos e vagamente
relacionados com alegria e tal. “Simon
Says Run”, assim em inglês para exportar o conceito, como todos os
conceitos que são exportados, e porque “o rei manda” soa um bocado mal, tanto foneticamente
como ideologicamente. E o que soa parece e mais vale ser sem parecer do que
parecer e soar.
Grupos de mais do que um, unidos a correr, mas de forma imitadora:
todos atrás do mesmo. O grupo maior a imitar só um na corrida, o rebanho mais
unido, a massa popular mais uniforme e indistinta, esse ganha.
O prémio é uma
parte que depois se vê para uma associação que depois se vê e umas medalhas
para as ovelhas mais lãzudas sob comando do senhor simão. É óbvio que a criatividade também
é premiada com menções em duas linhas de comunicação social – mas na verdade
imitar criatividade é sempre mais difícil do que emular o do costume e como tal
já se sabe, o maior grupo será o menos confuso e inovador. O grupo que sempre
vence.
A corrida deverá percorrer a cidade toda, e a sua história recente,
como tal, a partida será na rotunda do Santos da Cunha e acabar perto do largo
de monte de arcos na futura rotunda do Cónego de Melo.
domingo, 23 de junho de 2013
OHQLCURNC 25.
O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Passado uns segundos levantou-se num salto
para de novo cair. Na verdade levar com um raio na cabeça não é coisa que não
deixe mazelas. Não teve lesões excepto no controlo dos braços, que perdeu, e na
cabeça que começou a inchar e a ganhar um tom luzidio e brilhante. Demorou uns
tempos a conseguir equilibrar a cabeçorra que tinha agora, ainda mais sem o auxílio
dos braços, no entanto aprendeu que se estivesse em constante movimento e
andasse à roda, à roda, à roda… Ganhou algum reconhecimento e passou a ter
emprego garantido na animação de todas as festas populares. Tinha especial
jeito para dançar músicas de bombos e concertinas e gaitas de foles e
ferrinhos, especialmente ferrinhos.
domingo, 16 de junho de 2013
OHQLCURNC 24.
Há momentos chave na vida de uma pessoa. O momento em que começamos a
usar frases chavões é um deles sem dúvida. Mas não é desse que venho aqui
falar. Um dia destes ia eu na rua muito descansado a pensar que o verão nunca
mais chegava e como estava farto de chuva e (inserir onomatopeia mais adequada),
levei com um raio na cabeça. Confesso que não pensei em nada. Nem tempo para isso
tive… nem para pensar nem para me doer. Não sei quanto tempo depois acordei
relativamente confuso, mas ao mesmo tempo com a sensação de que tinha tudo organizado
na minha cabeça. Hoje sei que foi uma espécie de reset ou formatação de disco, mas sem me apagar a memória. Ainda
esperei ganhar algum super-poder, mas o máximo que identifiquei foi mesmo o de
sobreviver a um raio. A comunicação social ainda por cima diminuiu-me o poder
referindo que era um raio pequenino e só por isso me safei. Ainda me fizeram um
bolo desses da moda com bonecos com um mini eu a levar com um relâmpago. Estava
bom. Pode-se dizer que a minha vida mudou mas ficou na mesma. Mudou tanto como
quando comecei a usar frases chavão.
domingo, 9 de junho de 2013
OHQLCURNC 23.
O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se transformado numa folha de papel. Passou
a escrever a vida nele em vez de a viver.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
OHQLCURNC 22.
Acordou com o despertador às sete e trinta. Ouviu a chuva lá fora
enquanto reparava que tinha a boca seca. Levantou-se calçou umas meias, vestiu
a camisa e as calças e colocou os suspensórios. Abriu a janela e entrou o
escuro da ainda noite. Foi à casa de banho urinar e lavar os dentes – a pasta
tinha acabado. Ao passar pela cozinha pequena e amarelada bebeu um resto de
café frio da cafeteira. Vestiu o casaco, pegou num guarda-chuva velho, nas
chaves e saiu. Desceu as escadas estreitas e desembocando na rua dirigiu-se ao
quiosque para comprar tabaco. Começou a subir a rua no meio de uma tempestade,
enquanto fumava o primeiro cigarro do dia. Mal disposto porque o cigarro estava
molhado distraiu-se e com um sopro do vento mais forte o guarda-chuva dobrou-se
ao contrário e voou-lhe das mãos. Continuou a subir a rua apressado para não se
molhar. E de repente levou com um raio na cabeça…
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