O homem ia a caminhar calmamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Ao cair abriu-se-lhe a mala, de onde saltaram
um número interminável (para o comum mortal) de notas de todas a cores – do cinzento
ao violeta passando pelo amarelo, laranja, azul, rosa, e verde – que se espalharam
quase que uniformemente à volta do buraco criado pelo raio onde se encontrava
deitado. Quem via de cima tinha uma imagem única e estimulante às papilas
gustativas do olhar – parecia uma flor psicadélica repleta de pétalas coloridas
e com um homem farrusco no meio. Passou por lá, momentos breves depois, uma mulher que apanhou a flor e
a levou ao nariz. Cheirava-lhe um pouco a chamuscado mas mesmo assim não a
deitou fora e colocou-a no cabelo cheio de frescos caracóis. Quando chegou à
praia não se lembrou mais da flor e ao dar o primeiro mergulho nas ondas do mar
imenso, perdeu-a para sempre.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
OHQLCURNC 33.
O homem ia a caminhar rapidamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. À volta começara a surgir sorrisos e esgares
de esperança. Quem levou com o raio não era um homem qualquer mas o homem mais
vil da aldeia. Dizia-se por aí que batia na própria mãe e que a enviou para um
lar no estrangeiro só para ela não poder ser compreendida; diziam que quando
via gatinhos bebés os apanhava logo para se divertir a atirá-los aos porcos que
os comiam; diziam que já tinha atropelado doze pessoas só por estarem alguns centímetros
fora da passadeira; diziam que era sempre mal educado, tratando toda a gente
como seu subordinado; diziam muitas coisas.
Foi com regozijo que a população abraçou aquele raio naquela cabeça
daquele homem. Mas, o drama, o horror, o homem levantou-se. Estava tudo bem.
Toda a gente virou a cara e cerrou o punho pela injustiça. O homem começou a
rir às gargalhadas enquanto saltava em cima de um formigueiro.
Pois é. O povo nem sempre fica quieto, logo em uníssono deram-lhe com um
pau na cabeça. Desta vez de forma fatal. O povo ficou calado a seguir. Culparam
o raio e seguiram o seu caminho.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
OHQLCURNC 32.
O homem ia a caminhar afincadamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Ficou lá um buraco. Pelos vistos alguém não
gostava das ideias dele e esse alguém, como não gostava de sujar as mãos,
mandou outro alguém acertar-lhe com um raio fulminante. Com o tempo parece que
as pessoas, algumas muitas pessoas apenas, se esqueceram desse atentado e do quão
pouco respeito pelas ideias diferentes da sua tinha esse mandatário, e assim ergueram-lhe
uma estátua. Se calhar ninguém se esqueceu mesmo, mas fecharam os olhos às
malandrices dos atentados para o elogiar por outras coisas várias. Desviaram o
olhar como se de negligentes profissionais se tratassem. Na verdade o homem lá
se levantou a custo do buraco de onde levou com o raio e continuou a caminhar.
Se fosse do mesmo tipo de pessoa ainda encomendava um raio para cair em cima da
estátua do outro.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
OHQLCURNC 31.
O homem ia a caminhar rapidamente na rua e levou com um raio na cabeça.
Caiu como um peso morto no chão. Levantou-se revoltado com a vida. Mas que
raio, cair-lhe logo a ele um raio na cabeça. Ainda por cima quando tinha coisas
a fazer e não ao fim do dia quando se diz que já está tudo feito. (Como se
ficasse tudo feito alguma vez). Desceu a rua a resmungar e foi a casa trocar a
roupa chamuscada. Ao todo “perdeu” meia hora do seu tempo com o acontecimento e
com isso ficou revoltadíssimo em vez de aproveitar a singularidade que lhe
tinha sido propiciada experienciar. Voltou à rotina e no dia seguinte já tinha
tudo dentro da sua ordem. Não levou com mais nenhum raio. Revoltou-se com
outras banalidades apenas.
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